Uma Sociedade em Decadência
As flores falam e ninguém escuta, as ruas contam velhas memorias e ninguém quer ouvir; suas palavras perdem-se no vento, rumo a um futuro incerto que todos adivinham, mas que não se atrevem a pronunciar.
Cada esquina é uma boca tormentosa, que apregoa aos quatro ventos a chegada do fim: é o começo dos pobres, os mendigos e os andarilhos.
Eles são testemunhas silenciosas, mudos profetas que como historias vivas, contam sua própia desdita, mostram a sua carne nua, crivada de todo tipo de parasitas, procurando novas peles onde alojar as suas mortais larvas, e reproduzir-se a expensas de todos aqueles, que não tiveram ouvidos, para ouvír as lendas das ruas.
Lendas que a muito tempo estão sendo contadas, nas profundidades da miséria e da pobreza, dos desavisados peregrinos do Caminho, quando decidiram afastar-se dele e desfrutar das riquezas da Mãe Terra sem pagar por isso antes, sem propagar a Graça do ter coisas não adquiridas, sem pagar antes o direito á Vida.
Porque esse direito não se compra, não se adquire, se ganha, na corrente de Graças, que se estende além dos mundos.
A Vida não tem preço, e ainda assim, todos querem comprá-la, comprá-la sem pagar, sem propagá-la, sem dar-se conta de que pagam um preço muito alto, por algo que podem ter de Graça.
Sem dar-se conta, de que dessa forma, empobrecem mais e mais a cada dia que passa, vendendo-se ao externo, esquecendo o interno, prostituindo-se e escravizando-se ao ter, em detrimento da Graça do simples existir.
E assim surgem os pobresos mendigos, os andarilhos; assim surgem os pobres famintos do Pão da Vida, que somente o Ser concede de forma gratuita.
Assim surgem os mendigos, sedentos da Água da Vida, que somente a lembrança do Ser pode saciar.
Assim surgem os andarilhos do Caminho, fantasmas errantes, sombras viventes que buscam as luzes do futuro, luzes que somente encontram os Seres que tornam-se Caçadores de Raios de Sol.
Mas a historia dos Aguateiros e dos Caçadores, ninguém quer ouvír, pois estão todos apressurados em comprar o direito á Vida; estão todos ansiosos por um não existir, por um morrer de inanição, perante o maior tesouro, que podem ter de forma gratuita: o Ser.
Tão cegos estão, que morrem como moscas, apinhados entre o Ouro do Espírito, a Prata da Alma, a Fertilidade da Terra, e as Fábulas do Vento.
Vento que se faz pó em cada vida que recrudesce e vende-se pelo vil metal, traindo assim a sua essência imortal, a sua origem real , desvanecendo a dimensão onde habitam os Seres de mediana estatura, tornando-os criaturas que arrastam-se, e fogem a habitar nos sujos esgotos da miséria, que gera o Poder dos Herdeiros da ignorância e a corrupção, desta sociedade em decadência.
Images: nadia silveira – Mon Labiaga Ferrer – Fernnando Dutra